domingo, 22 de setembro de 2013

Idoso teme estigma do aparelho auditivo.

Vaidade, vergonha e preço desestimulam quem não ouve direito a procurar tratamento; estimativa é que 7 mi não procuram atendimento.25/08/2010 - por Fernanda Calgaro na categoria 'Artigos'Fonte : http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticias/artigos/idoso-teme-estigma-do-aparelho-auditivo.html 
Quando uma pessoa não enxerga bem, procura um oftalmologista e passa a usar óculos sem nenhum constrangimento ou vergonha. Porém, por medo de ser estigmatizado, muitas vezes, quem tem dificuldade para ouvir não reconhece a necessidade de se consultar com um médico otorrinolaringologista e rejeita o uso do aparelho auditivo.
Associado normalmente à senilidade, esse tipo de deficiência esbarra no preconceito existente principalmente entre as pessoas da terceira idade, que refutam a idéia de admitir e mostrar que sofrem desse problema.
"O uso do aparelho é estigmatizante, porque muitas vezes a deficiência auditiva é tratada pelas pessoas meio na gozação, de forma pejorativa", afirma a diretora da faculdade de fonoaudiologia da PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica), Altair Cadrobbi Pupo, a professora Lila. Outro motivo alegado pelo não uso do aparelho é a questão estética. "Existem casos em que a pessoa não usa por pura vaidade", diz. Há também a questão financeira, pois o preço do aparelho, dependendo do modelo e da tecnologia, pode variar de cerca de R$ 1.000 a cerca de R$ 7.000.
Ainda sim, Pupo ressalta que nos últimos anos a aceitação pelo idoso tem sido cada vez maior. "A pessoa da terceira idade está mais preocupada em garantir qualidade de vida e ter inserção social", avalia. "Além disso, os aparelhos têm se modernizado e estão mais potentes e miniaturizados, o que os torna muito discretos."
Convívio social
Segundo dados estimados da Sociedade Brasileira de Otologia (SBO) -ramo da medicina que se ocupa dos ouvidos-, dos quase 18 milhões de idosos no Brasil, o equivalente a cerca de 10% da população do país, aproximadamente 70% das pessoas acima de 65 anos -ou 12 milhões- têm alguma perda auditiva. Desse total, 7 milhões (ou 60%) precisariam de aparelho de amplificação sonora, mas não o fazem por preconceito ou desinformação.
Para o otorrinolaringologista e diretor da SBO, Luis Carlos Alves de Sousa, "as limitações da surdez são bem maiores do que as da cegueira, porque prejudicam, entre outras coisas, a abstração do pensamento". "O idoso é alijado do convívio social. Ele se sente um estorvo. Precisa aumentar muito o volume da televisão para ouvir e atrapalha o resto da família. Não consegue participar das conversas e acaba se isolando", relata Sousa. "A convivência saudável é fruto de uma boa audição."

"Meu contato com o mundo melhorou 90%. Antes ficava mais recluso e disperso nas conversas, agora estou mais participativo", conta o aposentado Francisco Mellinger, 75, que usa aparelho auditivo há três meses. "Estou radiante com essa nova realidade".
A dona-de-casa Itália Simões Santos, 78, ou Nina, como é chamada, compartilha dessa opinião. "Começaram a falar que eu já não estava mais escutando direito, não entendia parte da conversa. E eu não queria me isolar."

Miniatura
O aparelho de amplificação sonora individual (AASI) é um dispositivo eletrônico que aumenta os sons, possibilitando que o indivíduo com deficiência auditiva consiga escutar.
Os modelos de aparelhos são o retroauricular, que é colocado atrás da orelha e é indicado para perdas leve a severa, e os intra-aurais, que ficam dentro da orelha e se subdividem em intra-auricular, intracanal e microcanal. No caso dos intra-aurais, os aparelhos são confeccionados a partir do molde da orelha da pessoa. O intra-auricular ocupa a parte da concha e o conduto auditivo. Já o intracanal ocupa o conduto auditivo e uma parte da concha, enquanto que o microcanal fica no conduto auditivo externo. Os tipos de tecnologia são analógica, digital e híbrida, que é uma mistura das duas primeiras.
Segundo Deborah Ferrari, fonoaudióloga do Centro de Pesquisas Audiológicas do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofacias (Centrinho), da USP, em Bauru, "o paciente deve ter em mente que o aparelho supre as dificuldades causadas pela perda da audição, mas não substitui o ouvido humano".


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